quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
O Gentil Nobre Define O Sexo
Vou escarafundar a sua chorra...
O Nobre sempre delicado e lírico!
Vou forrar a braguilha...
Gentil homem também define o seu membro viril como vergalhão...
O farol de Alexandria!
O Nobre escarafunda, esbraguilha, esporrica seu vergalhão nas Chorras mundanas.
Depois almoça.
Enquanto isso Condessinha abre suas pernas e geme penetranda de Satisfações. Conseguirá depositar sua chorrinha quente no Farolíssimo espirrento de Gentil Nobre?
Cariolaço vem cariolaço vai...
Entre as horas apertadas com tudo feito em cima das coxas, Cariolaço vem, cariolaço vai...
Mas sem pressa em cada minuto no teu cu.
Depois de pronta a chola amolece, macaco cai.
Salpicada de vida escuto no ouvido a língua amiga. Enfia a boca, Enfia... E a bichonela não esfria.
De repente virou para o lado: um saco.
É o saco de um rei, minha rainha...
Não largue do meu cetro não largue... Me dê sua bocetinha sem Alarde...
Brinque com as minhas bolas, não são de lã minha gatinha, apesar Dos pentelhos
Entrando na sua boquinha.
Ela suspira por entre cetins de Florença! Ele mete e prensa...
Seus peitinhos pulam para fora e ele não sabe se chupa ou se Chora...
Quem não chora não mama!
Chorou tanto que foi para a cama
De jacarandá viril... Carcá no seu quadril!
Longas ancas abraçando o mastruço mor.
Perucas caindo ao chão, peitinhos rosa e violão...
Potranca dos meus sonhos virei vilão... Sequestrarei-te, meterei-te
Sem ter dó!
Nem perdão!
Condessinha suspirou algumas palavras junto ao Gentil Nobre.
Essa é uma criação de ambos.
Bilhete sobre a mesa
Hoje eu arrancaria qualquer pedaço de mim
Fui, bati sem olhar a porta da primeira felicidade
Apenas o frio como companheiro
A cadeira está vazia, o prato está vazio, o corpo está vazio
Não... Deixo apenas pedaços mal feitos, tortos, feios, enferrujados
Maldita herança
Meu rosto perfurado na saudade das tuas mãos,
E esse espaço também vazio por onde
Escoa a água suja da minha alma
Deixaste o ruído ligeiro, som perdido
Das palavras passadas
Dos meus pés intactos e puros
Abro um velho caminho, das vezes fugidas
Ultima pá de terra...
E por onde ofereço ao tempo a
Incapacidade de voltar a amar...
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
Retrato 3 x 4
Não sou de beleza absoluta
Não tenho atrativos
Talvez nem os mereça!
Sou apenas carne putrefata
Pelo adeus
Por todas as despedidas em
Cada lugar que deixei
Do barro imundo fui forjada
De onde nenhuma luz penetra
Sou do lodo mais profundo da terra
Inconstante
Pálida
Indesejada
Sou pouca coisa, bem sei...
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Delícias da Alcova da Condessinha...
O amor é livre e não mancha o papel.
Vem fauninho... mete com carinho
Meus olhos fechados sonham com tua pica na minha fenda estreita e
Macia
Te chamei nos sonhos e vieste!
Meu coração é defeituoso por querer a tua liberdade...
Quero que continue a espalhar teu cheiro nesse campo
A grama então me convence a deitar
Tua boca é meu alimento e me fode com vigor no espaço aberto
Meu sátiro... Homem dividido entre o sábio e o precipício
Sou tua condessinha libertina, despudorada e natural
Prova do prazer que tuas mãos descobriram entre minhas pernas
Sou uma pequena flor frágil, transparente e sem voz
Anseio pela música
Que eu sempre escutava como promessa
De contentamento
Sou toda tua
Faceira e nua
E agora, vais beber?
A chuva indecente escorre nas minhas costas um líquido profundo
Feito de insensatez...
Nasci outra vez... Nunca é tarde ou cedo demais
Fauno encantado
Para gozar
Condessinha conheceu um certo fauno...
Ilustração Gerda Wergener
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
O Último Dia
De repente a alma se invade por qualquer tipo de lembrança... Até que acredita ser real os sonhos mentirosos que dançam em volta dos olhos.
Salustiano sempre foi ordeiro, correto no trabalho, funcionário dos correios há mais de anos, obediente em casa, dos seus a bem dizer era um capacho e daqueles bem grosseiros que os outros esfregam as solas com vontade...
Sua única transgressão era quando na feira ia atrás da mulher, levando o pesado, e furtivamente mergulhava as mãos nas sacas de feijão escondendo o punhado no bolso para em seguida com petelecos certeiros, mísseis vegetais, atingir os traseiros gordos daquelas pomposas.
Mas naquela sexta-feira, às portas do carnaval, ele voltava para casa mais encolhido do que de costume. Perdeu o emprego para aquele rapazinho, ele, Salustiano, que na sua bondade tinha inclusive ensinado o pulo-do- gato!
Solitário no meio daquela gente leve, que se espalhava cantando refrões de velhos sambas, ele retardava seu passo à medida que avistava o fúnebre portão descascado da casa em Madureira!
Dentro do bolso do paletó o envelope pardo que já tinha como destino as mãos ávidas de Ernestina.
E o que ela diria, quando soubesse que ele foi largado como uma meia puída? "Inútil, velho, acabado, não vale a manteiga que passa no pão!".
Nessa linha invisível do seu caminho ele previu a mudez que o sufocaria dali em diante, e lembrou-se de quando em criança desfolhava uma flor só lhe restava o malmequer...
Abatido e resignado, tateava parado à procura da chave, quando um calafrio eriçou os pêlos do braço.
Um assobio longo esquentou o sangue congelado de Salustiano, e um homem distinto, de terno claro e panamá muito aprumado faiscava em sua direção do outro lado da rua como se fosse a última árvore do paraíso, de frutos que se oferecem sem pudor.
Ele se viu tentado a fugir daquela vida oca.
Quando se deu conta já tinha entrado no ônibus que o levaria à Praça Onze tendo como companheiro o tal homem reluzente, sempre de longe, que alisava o bigode e lhe sorria cúmplice da grande travessura de Salustiano.
Começou com duas notas retiradas do envelope.
Gastou num boteco na Carioca, e em pouco tempo já havia se tornado amigo de fraldas do dono do estabelecimento e de quebra de todos os bebuns perdidos à procura de molhar as palavras...
Tudo de ruim desaparecia porque Salustiano voava longe, sem desejo de ser encontrado. Iria findar até o último tostão os míseros anos trabalhados no encantamento de um carnaval que pulsava estridente a lhe exigir toda vida que lhe fora negada.
E dentro dele um calor que não podia mais ser retido. Suas faces se avermelhavam porque lhe respigava entre odaliscas e colombinas tropicais o hálito da verdadeira alegria que não tem vergonha nem pede licença, que corre no riso frouxo e mesmo infantil e que premia com um beijo o folião desgarrado...
Sentiu-se importante pela primeira vez, legítimo homem, seu corpo tomou nova forma, como se tivesse ampliado para dar mais espaço a esse novo ar que de tão puro lhe entorpecia e bambeava as pernas e as fazia rítmicas, dançarinas, sonho das mulheres de sandálias douradas!
Não lutou mais contra a música, seguia e cantava naquele movimento frenético como se incorporasse as almas soltas dos sujos e esquecidos.
Sempre foi a ovelha gentil e recuada que se deixava tosar até descarnar a pele, com o prato de comida na mão esperando uma caridade e nunca chegava sua vez. Nos seus pesadelos jamais alcançava a mesa que medonha ia se distanciando e lhe pondo atrás, sempre atrás dos outros...
Quando chamou o menino de canelas finas que vendia as máscaras, chapéus, buzinas e confetes, ria por fora e por dentro naquele doido prazer de gastar o dinheiro em algo não atrelado à realidade.
Que somente é fantasia desmanchando ligeira como açúcar nas veias de Salustiano...
E seguia o cordão desabrochando pelas ruas em sonoras gargalhadas. "Esse carnaval eu atravesso sem dormir! Sem dormir!".
Vestiu-se de fogo decidido a cumprir a promessa e já era dono das rodas, abraçado às mulheres, requebrando-se nas ancas daquelas jóias preciosas. A batucada comia solta e Salustiano sem missão, sem pressa, fauno de pele curtida que exalava agora perfume de bem querer...
Mas no clarão da madrugada o dono da rua se fez visível aos olhos ardidos de Salustiano. E o dito brilhava sabedor da sua faceirice mulata, espanando o panamá com suas mãos longas...
Ao mesmo tempo em que gingava na direção do espantado homem paralisado e em duas piscadas sóbrio como um padre.
Que sustentou o olhar, não abaixou a cabeça. Não cedeu aquele medo perpétuo dos covardes. Não sorriu. Estava apenas em frangalhos, o corpo moído, e perdido no mundo. Súbito, porém, reconheceu o amigo.
A sombra dos seus sonhos que batia para fora do peito e Salustiano não poderia mais escondê-la.
No amanhecer azulado daquela quarta-feira morna, rodopiava em cores cintilantes e ferozes toda a beleza daqueles poucos dias chupados até a última gota que agora se desfaziam na alma de Salustiano.
Virado pelo avesso, inocente e enfeitiçado pela vida, lentamente por fim ele fechou os olhos sem deixar de sorrir...
Ilustração Seu Zé Pelintra
sábado, 13 de dezembro de 2008
A Ternura de Quintino
Já era desses casamentos amarrados há tanto que não se perde tempo enfeitando mesa. Come-se à boca do fogão, panela quente, língua chamuscada pela pressa de engolir.
Marilene ainda nem tinha acabado de espremer o alho quando o marido escancara pela cozinha, os olhos saltados:
“A piada do escritório! Me explica uma coisa dessa, minha filha!”
“Que papel é esse, Geraldo?”
Era a deixa! Ele foi desdobrando a dita folha bem na cara da mulher, o suor correndo de tal forma que nem os pêlos eriçados da sobrancelha agüentavam.
“Hoje o pessoal da contabilidade entrou em um site para matar o tempo...”
“Ah, Geraldo tenha dó! No meio do refogado...”
“Marilene!” E, segurava a mão no peito, rouco. “Eu tenho nome a zelar, trabalho naquele lugar desde que o cometa Halley passou pela última vez na terra...”’
Ela desistiu e voltou a mexer a panela, depois do cometa já sabia o que viria. O namoro escondido do pai durante a campanha do Brizola para Presidente, militar desconfiado daquele lobo vermelho, guloso da virtude da filha. Três anos de esfregações sem ir às vias de fato. E Geraldo resistindo, cavaleiro de lança ardente... O que o amor não faz! Ou a teimosia!
Apoteótica noite dentro do carro.
Abarrotado de panfletos de FORA COLLOR! Marilene perdeu a virgindade em cima de três mil adesivos pedindo o impeachment do alto marajá da nação. Ainda escutava os sussurros de um Geraldo, incrédulo pela coragem da moça, talvez o fato inebriante, a comoção do país pelo bota fora do presidente, um clima de liberdade, tudo foi o estopim para Marilene baixar a guarda.
Sai ano, entra ano, filho vem, filho cresce, a paixão se acomoda.
Até o primeiro computador atravessar o portão da casa. E cada qual também se acomodou com as viagens cibernéticas, verdadeiros exploradores de terras selvagens. Marilene tinha sua horinha certa pela manhã, lia horóscopo, adicionava sites culinários, coisinhas de mulher. Quando resolveu pesquisar um prato diferente, desses para variar o rame rame diário,faria o marido babar pela “delícia de camarão da Neuza”. Descobriu espantada até onde uma simples delícia poderia levar...
“Desliga esse fogão! Marilene, você lembra o caso do Itamar e a modelo sem calcinha?”
“Ih... carnavais passados, Geraldo, o que isso tem a ver com essa folha? Olha, fala de uma vez que os meninos já devem estar chegando.”
“Marilene, eu sempre abominei mulher sem calcinha, pra quê deixar aquilo livre?” Continuava rosnando, ”e qual não foi a minha surpresa, hoje, ao ver uma foto sua, sem nada!”
Ela bambeou, mas falou firme:
“Brincadeira é essa? Passa essa foto pra cá!”
“Nem adianta negar, é você, ou melhor, é ela!”. E caiu na cadeira, as mãos alisando o cabelo ralo...
Marilene, nervosa, correu os olhos no papel, uma imensa foto, tudo bem aberto, livre, solto, e o pseudônimo “Ternura de Quintino” postado em garrafais cor de rosa.
“Imagina se eu tenho a coragem de me mostrar desse jeito tão... íntimo... além do mais aqui não tem cara, não tem nome, só a dita cuja, você garante mesmo que é a minha?”
“A pinta! Repara na pinta do ladinho esquerdo, aqui, ó...”
‘’Geraldo! Eu não sou a única mulher com pinta aí no... na...”
“Fala, na xoxota, cona, xereca, chana, perereca, piriquita, lascadinha, rolinha, cara-preta, mata-homem, fenda, chincha, crespa, gruta, boca-de-baixo, concha, ninho-de-piroca, aranha, bichana,fala Marilene! Fala de uma vez buceta, porra!
Dessa vez quem desabou na cadeira foi ela. De onde ele tirou tanto nome?Nem quando... Alías, Geraldo detestava baixaria e palavrão, talvez por isso tenha virado um chato, um come-dorme, uma sopa de moribundo, e Marilene encontra solitária a pimenteira vermelha e ardida, malagueta brava, selvagem, queimando seus caminhos esquecidos, acendendo a brasa de moça, ainda era moça, mas murcha,azeda...
“E tem mais,” continuava apoplético, ”Pode existir mil mulheres, mas com pinta marrom no formato do mapa da Itália e que mora em Quintino, ahhh... não deve ter duas frutas né?
“É... não tem jeito mesmo. Assumo. Mas a culpa é sua!”
“Minha filha...”, a voz abafada pela confissão, assim, tão fácil, sem muito choro, praticamente leviana de tanta sinceridade!
“O que eu fiz para merecer essa avacalhação? Se eu não soubesse fingir, o Almeida, o Gonçalves, o Neves e toda corja iriam perceber que eu não estava tão animadinho assim. O pior foi ter que agüentar os recadinhos que enviaram para a ternura...e todo mundo levando cópia,e o Amado,esse então foi o caldo entornado! O Amado! O homem teve o prazer de anunciar uma punheta de vinte e quatro horas! O Amado! Você sabe o que é isso Marilene? Um homem descarado batendo punheta na tua foto,Marilene! Você não sabe o quanto dói no coração...e a culpa é minha,Marilene? A culpa é minha?”
Se o diabo abrisse um buraco no meio daquela cozinha ela teria pulado e desaparecido satisfeita. Levantou-se e desamarrou o avental, decidida! Porque não adiantava se unir ou fugir do diabo. O sopro que vem quente varre a mentira, acaba com tudo.
“Olha Geraldo, a verdade é que eu sempre fui complexada. Então sem querer, descobri esse site onde as mulheres podem colocar fotos do que há de mais bonito nelas. Fiz. As primeiras saíram com as pernas fechadas, mas comecei a gostar, olhei tudo que a natureza me deu,perdi a vergonha, me senti diferente... E você sabe lá o que é perder a virgindade com a cara do Collor na bunda? E você sabe o que é agüentar as piadinhas do marido, ah, Marilene, se não fosse tão avantajada, ah, Marilene, podia ter um botãozinho menor..., cansei meu bem! Tô pedindo a conta! Muito prazer, greluda e gostosa!”
“Mas eu sempre gostei da tua xoxota!!!”
“O teu mal foi sempre dizer que adorava minha comida e nunca ter tempo para saborear...”
“Marilene, volta aqui, os meninos vão chegar, você nem acabou de fazer o almoço... vamos esquecer esse incidente, passar uma esponja...”
“Isso Geraldo! Aproveita que você já tem a esponja e acaba de lavar a louça, areia a panela, esfrega os vidros, e termina o refogado!”
Marilene foi para o quarto, pintou a boca de vermelho, desprendeu o cabelo e bateu a porta. Solta. Sem nada por baixo. Dentro da bolsa, no caderninho, o telefone do Amado.
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
J'ai Deux Amours...
Josephine Baker...
Uma musa irreverente e sexy.Uma fúria selvagem que colocou a Europa no bolso apesar de correntes contrárias.E ainda assim continuou sendo a pequena menina de St.Louis...A menina que sempre acredita que um dia a estrela desce e devolve o nosso brilho para que se espalhe pelo mundo.
Ela escreveu:
"Aos oito anos de idade eu já trabalhava para diminuir a fome da família.
Sofri: fome,frio
Disseram que eu era feia
Que eu dançava como um macaco
Depois fiquei menos feia - Cosméticos
Recebi vaias
E depois aplausos - a multidão
Continuei a dançar
Eu amava o Jazz
Continuei a cantar
Eu amava a tristeza: minha alma se entristece
Tive uma oportunidade - o destino
Sou digna
Disseram que eu não era
Perseverança".
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Delícias da Alcova da Condessinha...
Condessinha chega transbordante de calores na sua pequena grutinha
Fecha a porta...
Suas tias pretendem crer tal donzela desprovida de ardidos anseios
Na sua cama púbere feita de sonhos, porém há um espaço
Dedicado à impureza curiosa
Caprichosa
Atraente
Condessinha sabe que pensamentos se tornam sólidos
Ainda mais transfigurados na
Beleza
Do reflexo de sua boceta
No delicado espelho...
Ela olha seu mistério
E prova sua seiva que
Um dia não tardará
A oferecer
A jovem cavalheiro distinto e viril
De sorriso aberto
E palavra sutil.
Nos salões e saraus servirá delicadamente o chá da tarde...
Para então ao entardecer suspirar como flor desabrochada
Tulipa sagrada
Botão bem guardado
Pelo seu adorado...
Ilustração Gerda Wergener
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Doce Heroína
Não nunca mais
O que você disse
Alice
Sorrateira no meu sótão
Remexendo minhas veias
Cheias... Cheias...
Alice me disse
Nunca mais...
Alice me dê... Agora a obscuridade do fundo da sua
Garganta!
Plena... Intensa
Alice pequena e presa
De olhos comuns, vidrados
Olhos narcóticos
Que me viciaram por inteiro
Inundado de mim mesmo
Sorrateira Alice...
Henry Fuseli, "Pesadelo"
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
Cômica Beladonna
Eu te liguei
Ontem
Não me respondeu
Beladonna vulnerável
Rasguei teus retratos
Estúpidos e falsos
Desesperado ator perdido
À procura dos mil beijos teus
Manchados na minha camisa
Beijos desfolhados vazios de sentidos
Cômica Beladonna
Quantas noites perdi
Noites insones sem ligar para mim
Perdido o ator...
Discando discando
Tua voz nem quero mais escutar
Mascarada ,fingida
Beladonna da minha vida
Fúria do tempo,quero tua carne,teus peitos,tuas coxas
Quero mesmo assim
Essa boca que
encarcerada em volúpia
Docemente
cospe em mim...
Foto Lupe Velez
sábado, 29 de novembro de 2008
Sereia da Terra
Dor... Já nem sei quem sou
Azulejos frios, apagados
Dor de apenas uma cor
O tom azul infinito de um céu
Cortado em mosaico
Pedaços separados em diferentes barcos
Joguei-me ao mar
Joguei-me em seus braços
Frágil amparo
Ao longe eu não escutei o vento chamar
E a embarcação coroada de azulejos
Mais do que frios me observava
Afundar
Desprendiam da alma os meus sonhos
Que algum dia subirão à superfície
Doces e tranquilos
Como eterna espuma de criança...
Frida Khalo,Julien Levy,1938.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Menina no Portão
Se conhece pequena figura
Pintada de azul dependurada
À espera
Fria estrela de meninice esquecida
Dependurada
Envolta em manto pesado
Cujas mãos são apenas garras de velha águia
Retorna enfim à porta do ninho e o bico recurvado
Fere, castiga e maltrata os olhos
Puros de quem admirava
Distante estrela
A quem suspirava
Velha águia desfeita de seus adornos de ilusão
Recolhe esses encantos incompreensíveis
Dos que são inatingíveis
Bardos, profetas e poetas
Desajustados do amor
Esse manto de alegóricas tristezas
É o único refúgio
Estendido aos pés do meu passado
Águia dependurada
Sem asas
Sem bico
Fria
Distante
Sem nada
"Belle de Nuit" de Brassai.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Glória,o suor e o cachorro.
Prende o cabelo nessa cordinha imunda
Dentro desse quartinho sujo e escuro.
Leva à boca antes de sair o suor preso na língua
Do rapaz ao teu lado.
Enxuga o sal do amor
Da noite
Amanhecida
Agitada.
Encosta teus dentes, oferece tua última mordida e o cheiro do teu cabelo escorrido.
Lá fora há uma estrada quente... E no fundo dessa bolsa de franja ainda sobraram alguns
Cigarros...
Um pente. Um espelho. Algum dinheiro.
O suficiente para um café.
Na grande e longa e estranha estrada quente ainda há o suficiente.
Suja. E o dia descobrindo tuas sardas, teus sapatos de couro desbotados.
O sol, inimigo da garota dos longos cabelos e olhos frágeis.
Ainda assim continua em tua visão do seu fogo,
Quer cegar. Perder. A estrada é longa
E o couro anda no cimento cinza. E o suor escorre desaparecendo a noite
Agitada
Esquecida, como esse cachorro descarnado
Famélico
Amanhecido ao teu lado, atrás dos teus sapatos
Vermelhos de couro desbotado.
Cachorro apagado.
Vontade de morder o animal. Garota que ri entre seus cabelos compridos cor de fuligem
Mostrando seus dentes. Acende mais um cigarro.
A fumaça. Sinal para o sol!
Talvez o rapaz a veja. Mas ele dorme, num quarto abandonado...
Longa viagem... E nenhum carro parando.
Garota e cachorro
Sedentos. Esfomeados.
Posto de gasolina. O velho olha.
Seu umbigo.
Amanhecido.
Se fosse uma selvagem arrancaria e comeria aqueles olhos
Estúpidos, inchados no tempo.
Comeria em grande mordida e o resto dos glóbulos
E o resto deixaria para o cachorro...
Colocou a bolsa na frente da barriga.
E o velho do posto adivinhava seu corpo.
Contava suas sardas. Ela o chamou.
Sem dinheiro.
E uma longa estrada. Abaixou sua calça e o devorou
Ali mesmo, no posto perto do banheiro
Sugou a pele envelhecida, observada pelo cão.
Estava de meias brancas e sua mãe fazia tranças em seus cabelos escorridos
Seu pai lhe beijava, segurava pela mão, dava bom dia e a garota
Do futuro de algodão, puro, com seus cadernos de letras e fadas
Ajoelhada estava
E tinha na boca o gosto
De gasolina...
Era o momento de acender o isqueiro
Mas suas mãos trabalhavam presas, tristes,
O cachorro se apiedava.
O sal do rapaz evaporava. De dentro de suas sardas.
O dinheiro do velho foi o almoço dos novos amigos.
Toda estrada é longa!
Aquela parecia não ter fim.
A raiva parecia não ter fim.
Cuspia a saliva de gasolina, cuspia no animal
Este não ameaçava.
Mataria por ela. E por seus sapatos pequenos e sem cor.
Guardou o troco, moedas, papel azedo, lambeu o dedo.
O dinheiro tem gosto azedo. Velho!
A estrada só tem ida.
E os carros passam rápido,
Cada vez
Misturados, em fumaça escura
Tarde demais...
Seus olhos fecharam na estrada
Onde os carros passaram em seu corpo frágil.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Vento Tardio
A Mosca
Nesse dia amargo e azedo
Não consigo matar
A mosca que incomoda meu sono
A mosca que dança louca
E fala alto demais
Mosca absurda
Tua vida é curta... Me deixe em paz...
Quero virar e sonhar
Sem acordar...
Dormir sem sentir o prazer
Entorpecer
Porque bem longe no tempo vazio...
Das horas paradas nessa cama estreita...
Inseto suave,bandido...Você já me esqueceu
sábado, 22 de novembro de 2008
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Carta de Clarice...
... De cima da minha montanha eu sou ainda essa águia observadora das dores dos homens... Acredito na sensualidade como expiação das nossas fraquezas,quando digo sobre a mentira é porque a imaginação feminina se nutre das palavras da boca de vocês,por mais ilusórias guardaremos feito jóias de onde poderemos sempre retirar e afirmar a doçura dos momentos que estão na verdade fadados ao abandono e fracasso. Mas um dia, uma noite houve um mistério, e isso preservamos como parte integrada aos nossos sonhos.
A outra parte é a carne. Já nem sei o que você pensa sobre mim, ou desses jogos maliciosos. Ou de uma correspondência eletrônica de alguém que deveria ser o mais sensato dessa amizade. Eu. Não a possuo. Imatura e talvez à beira de uma demência dos sentidos, eu gosto desse seu cheiro selvagem. Então se apodera uma verdadeira cegueira de onde enxergo uma boca, esses olhos que saltam na minha carne, o meu prazer interno como uma lava quente e pegajosa que transpira e chama pelo teu gozo, uma vontade louca, animalesca primária de dominação, então quem sou realmente? Uma inocente fingida ou essa fonte insaciável?
Sou solidão. Apenas tenho esse corpo frágil e sedento a oferecer, hoje me sinto como a mais verdadeira das prostitutas.
Você está se tornando um grande amigo, Devo engavetar aí.
Mas por enquanto ainda sou a Salomé na fúria da alucinação.
E tenho prazer em me queimar...
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
O Beijo de Eurídice Ou Pequeno Conto do Desencontro dos Amantes da Lira
Encanto das fêmeas fogosas, solução e amparo. Chegava aos castelos e alegremente era saudado pelas flores noturnas em seus vestidos acorrentados ao doce vício. Uma dessas noites esbarrou com um pracinha americano que veio parar nas costas pernambucanas e finda a guerra resolveu degustar as cabrochas do litoral até o sul do país... Entre um cigarro Olga e confissões trocadas, "I got a litlle story... we're drinkin'n my friend ... I'm fellin' so bad ... you'd never know it ,but buddy I'm a kind of poet.. So make it one for my baby and one more for the road..."
Orfeu entendeu o que até mesmo tentava esconder... Nos olhos fundos daquele homem ele mergulhou além da incompreensão da língua, o quanto nos falta um verdadeiro querer... Entrou pela noite com o desconhecido em gulosos goles de cerveja. Bambeando, cheirando à paixão ele colhe a flor mais pura da lapa... Mocinha Eurídice que fazia um bico de caixa em um cabaret dançante, orvalho selvagem, que paralisa a alma de Orfeu, corta o fôlego por alguns instantes até que ele consiga retomar o universo de grande macho sedutor, rei da lira e mulheres que seduz para em seguida desdenhar...
E com Eurídice não foi diferente... Passou-lhe a conversa ali mesmo no balcão em promessas de perfumes exóticos de lugares romanceados, folhetim barato da sua língua pobre e ardida... revirou aquele coração imaculado.Naquela manhã findo o trabalho, ela suspirava, "eu nasci pra sofrer... foi olhar pra você... quis gritar, quis fugir, mas você eu não sei por que você me chamou..."
Eurídice nem se importava com sua roupinha puída, seus sapatinhos gastos nas pedrinhas da Cinelândia, nos sonhos dispensados de suas horinhas de folga em filmes. Agora ela esperava, a noite e seu balcão, porque sabia que ele viria, e faria suspender as horas, parar o tempo durante o tempo em que olhasse em seus olhos, "ah,você está vendo só do jeito que eu fiquei... entre...não deixe o mundo mau lhe levar outra vez... me abrace simplesmente não fale,não lembre..."
Ela se entrega ao amor de Orfeu, durante aquela noite o viu dançar com tantas mulheres que quase nem acreditou que ao deixar seu trabalho, com o corpo cansado e os pés doloridos, se surpreenderia com a boca mais doce que provou... "Eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã..."
Ele jamais seria indivisível, entendeu na forma que calmamente Orfeu fazia o nó da gravata e lhe sorria já como se ela fosse uma lembrança distante... "Mesmo que os romances sejam falsos como o nosso, são bonitas, não importa são bonitas as canções..."
Eurídice abandonou seu emprego nesse dia. Desgostosa andou a vagar pela rua do Comércio, Buenos Aires, Praça Tiradentes, numa louca busca dos passos do seu dançarino... "Suas mãos,onde estão? Onde está o seu carinho,onde está você? Se eu pudesse buscar,se eu soubesse aonde está...seu amor...você..." .Por quantas mulheres ele havia passado? Em quais castelos ele estava? Quais camas e lençóis baratos ele dormia e acordava?
"As praias desertas continuam esperando por nós dois... a este encontro eu não devo faltar... agora eu sei que não posso faltar... porque tudo na vida há de ser sempre assim... tudo me diz não podes mais fingir..."
E assombrada, triste e esquecida em um desses dias que lentamente acabam ela se aproxima dessas mulheres de vermelho. Abre seu espelho e do fundo da bolsa retira o batom. Sua vaidade, o batom que estava à espera de Orfeu e agora marcará infinitos desconhecidos, vingança do abandono."Um dia há de chegar,quando ainda não sei...você vai procurar aonde eu estiver...". Decidiu esvaziar esse amor sendo de todos. Sendo de muitos. Desconsiderada e verdadeiramente honesta como toda puta.
E na ironia dessa história, ciranda de desespero, Eurídice nua nos braços do pracinha.Que não a deixa ir embora enternecendo um coração aprisionado e murmura enfeitiçado pela melancolia...
"Speak low... Darling, speak low... Love is a spark lost in the dark... the curtain descends, everything ends too soon... I wait... when you speak low to me... speak love to me..." Ela somente consegue fechar os olhos e imaginar que o calor que braseia seu corpo vem dos beijos de Orfeu... E aquelas palavras estrangeiras envenenam sua alma como o doce sussurrar do homem que a esqueceu.
Ela nem chega a perceber o quanto o pracinha se perdeu por ela. Já não queria mais ser a razão de ninguém, em cada esquina esperava encontrar Orfeu... Ele soube enfim, que ela era a puta mais concorrida da Gomes Freire, e lhe doeu e corroeu no orgulho porque suas promessas tinham sido verdadeiras.
Porém como todo homem ele as corrigiu pela manhã a deixando linda e petrificada flor estendida na cama, marcada pelas palavras."Ninguém precisa saber o que houve entre nós dois.." Ele era Orfeu, de todas as putas do mangue, jamais deixava seu amor na mesma cama duas vezes, sua avidez competia com dos outros malandros de branco e panamá, jamais iria existir outro amante da lira...
E num encontro fatídico, aquele que a vida lhe enchia todos os dias foi atingido pelo eterno looser, desajustado soldado. Nessa noite as rosas das encruzilhadas sangraram... O malandro não se desviou do seu destino, agonizante pediu por Eurídice, implorou um último beijo...
"Sim,deve haver o perdão para mim,senão nem sei qual será o meu fim...consegui o grande amor,mas eu não fui feliz..."
A busca chegava ao fim.
''Triste senhora... chora,disfarça e chora..o seu pranto vai molhar o deserto..." Ela retirou seu lenço, cobriu sua ferida em um gesto vazio, lentamente aproximou seu rosto. Orfeu das noites intermináveis, melódicas e sensuais, do mel derramado em sua boca inocente, homem dos cabelos de veludo, negros, escuros caminhos percorridos pelos seus dedos finos. Orfeu, doce Orfeu estendido em seus braços, que não dança mais...
E confessou que ele tinha conseguido com que ela desistisse de amar... Com os olhos fitos naquela que ele não teve coragem de se entregar, Orfeu libera sua alma ainda quente que se reparte nas encruzilhadas e no vagar da alma boêmia... Eurídice se levanta.Sem a esmola do beijo. Pede que acedam uma vela ao defunto e finge esquecer sua historia junto com o dia que sempre insiste em nascer...
"Morre mais um amor num coração vulgar deixa desilusão a quem não sabe amar... um verdadeiro amor nunca fenece... se o amor morrer é porque ninguém o entendeu ...deixa o teu coração viver em paz... o teu pecado é querer amar demais."
sábado, 1 de novembro de 2008
Os lábios frios de T.
Preciso de alguém mais forte do que eu.
A hora azulada quando a escuridão é rompida pelo dia reacende minhas marcas nesse banheiro de bar.Já não consigo sair.Sou a última mulher de todas que deixaram a seiva selvagem de sexo de suas urinas pelo vaso,pelo chão...
Sou sempre a última mulher,a que sobra e cheira o odor fétido do álcool transformado.Sou a boceta solitária e vadia que se vê nua num velho espelho...A maquiagem não disfarça nenhuma dor,não me torna alegre,nem sedutora.Já não tenho a cor de maçã perfumada e pura.
Serei recolhida como o resto desses papéis úmidos e sujos...
A noite inteira escutei sons confusos, estridentes,mistura de música e conversas vazias.Meus olhos mergulhados em T. são como satélites desgovernados,desorientados pela falta de paixão.Ele se conforta em mim quando não há mais ninguém,ele sabe o que pede minha boca.Ele preenche nela seus próprios vazios e encontra a calma e o prazer.
Apenas dessa vez eu serei todas elas.Trancada aqui me esfrego nas paredes,me contamino do que não sou.Elas me doam a compaixão de que necessito.Elas me dão seus amores,suas esperanças... Sinto o sonho no rastro da fêmea. Bruscamente um afago aquece minha nuca, você vê, eles deixam seus beijos...
Eles enlouquecem pelo meu cheiro mentiroso, a mulher que nunca é notada é a mulher adorada pela cegueira de todos os homens. Diversos tons de âmbar me colorem... Já não estou só.
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
Libertinas concretas
Era uma sóror... Sonhando pelo feio grilhão... Seus pêlos púbicos escondiam
Desejos de possessão...
Foi marcada nas costas, derretida cera ungida pela crisma fria
De freiras velhas e frígidas...
E os olhos do Franciscano... Irmão nas cantigas e preces
Queimavam naturalmente
Como no dia em que na grama verde deitou
O pau
Por entre vestes sombrias
Misturadas cores de fantasia
Na bocetinha da freirinha
Geme irmãzinha... Rezarei pela sua alma
Rezarei em todas as línguas
Delicadamente depositarei hóstias
De loucura
Paixão insubmissa
Tuas grades de nada adiantarão, pois
Consumado está...
Sou senhor dos segredos
Sou senhor dos teus olhos
Perfumei de mirra teus cabelos
Do meu jorro leitoso
Envolvendo como véu lacrimoso
A tua pureza resoluta.
É tarde, mas nada impede o dia de vir
Sonolenta tristeza sabes que vai para a chama da vergonha...
Estarei lá untando teu corpo
Teu respiradouro
Frágil e doce
Serei a morte no caminho reverso do Amor...
E sempre, sempre te puxarei para junto
Da minha boca
Dividida
Entre Deus e a dor...