quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Querido Estranho


Há tanto para ser refeito. Não, eu não quero mais intimidade.
Não quero esgotar minha alma.
Necessito apenas de uma linha tênue entre nós.
Para que eu te surpreenda.
Livro a escrever
Todos os dias.
Dessa ferida abriu-se também estranho jorro.
E assim quero ser.
Inexplicável aos seus olhos.
Sem saber.
Porque o que eu sou é folha recolhida em tuas mãos...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

O Dia Em Que Matei Mamãe




Me disseram um dia que potes só no final do Arco-íris.

Minha vida está bagunçada,o furacão me leva,me atormenta,não controlo nada.

Além do Arco-Íris.

Estou resignada e sem.Só é bom quando se deseja matar.

Serei o outro lado da Bruxa? Toda mulher merece morrer aqui ou lá.

Palavras me cortam inteira,e estou escrava,sem ajuda,sem amor,sem trabalho.

Além do Arco-íris filhinha...

Se eu tivesse riquezas me respeitariam mesmo sendo de caráter duvidoso.

Respeitam apenas quem possui dinheiro no bolso.

Eu apenas engulo,estou com a garganta seca,não tenho fome,a janela é a única saída?

Além do Arco-Íris o pote dos sonhos...

Sou feita de emoções inúteis,sou a cigarra ociosa que bate à sua porta.

36...

De quê adianta fantasiar mais?

Vou ao encontro da Terra dos Asnos,Preguiçosos e Ignorantes.

Umas caem limpando no labor ,outras por profunda tristeza.

Depois é colocar um pano em cima,sangue na rua...

Mamãe eu sempre disse que ainda iria aparecer no jornal.

Além do Arco-Íris sou amiga do Rei...

Serei eterna pintura deitada na cama do Amor.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Tarei...

Entrando no carro estofado de couro ela amarrou o cabelo, suava quente.
Estofado de couro.
“Quero ir para casa!”
Pedir carona saindo do colégio. Nova. Rejeitada pelos colegas.
“Bonitinha...”, reparou “nuca peludinha...”
Tinha tesão em pêlos. Com oito anos ela raspou metade da perna com a gilete do pai.
“Que é isso?”
“Caiu, pai, meus pêlos caíram...”
Não gostava de usar saia. Dentro do carro ele espichava. Relance.
Pequena calcinha branca. Coxas peludinhas.
“Me deixa em casa?”
“Quero comer. Tava indo ao trabalho. Te dei carona...”
“Tá quase lá... ali, vira ali naquela rua...”
“Gosta de frapê de côco?”
O pai saía da sorveteria, simples de esquina, ela toda feliz, vestido azul... Sorvete, só de chocolate!
“Pai! Meu sabor preferido é de chocolate...” O vestido ficou sujo.
Mas seu pai era bom. Pegou um guardanapo e limpou a manchinha de sorvete.
Dentro do bar, o frapê refrescou os dois. Mochila no balcão. Calcinha escondida.
Ele já namorava seus peitinhos. Ela se via através do vidro da lanchonete...
“Letreiro brega...”
“Volta?”
“Heim?”, e chupou o canudinho... Côco e canela...
Ela tinha penugem em cima dos lábios. Ele tarava com seus pêlinhos.
“Volta comigo?”

Sorri. Já nem se lembrava dos anos sem saia.
Verões intermináveis em calças pesadas. Duas calças vestidas. Esconder as pernas.
Se olhava no espelho.
Feia. Sem graça. Tinha manchinha na bunda.
Ninguém, nenhum garoto ia ter tesão na sua bunda.
Duas manchinhas.
Vestido de chocolate. Boquinha de côco e canela. Bunda manchadinha...
“Dentro, aí, pode pegar o lenço...”
“Porta-luvas? Mas depois me leva em casa?”
“Tô tarando garota...”
Ela limpando a blusa...
“Em quem?”
“Menina,não assobia,dá ruga! Menina, sem cotovelo na mesa! Menina sem boca cheia!”
Cotovelo é feio...
Ela olhava agora os cotovelos. Eles também eram manchadinhos...
Muitos pêlos nos braços!
“Quando foi que sentiu tesão?”
“Pela primeira vez?”
“Fica só de calcinha?”
“Não sei, acho que era bem pequena... meu coração doía.”
Ela tinha pêlos todos escurinhos, calcinha branca e se via os pentelhos pretos...
Saiam pela calcinha, pêlos espalhadinhos.
Ela suspirou.
Não pensava em nada. Sua mãe a esperava para almoçar. Mas não tinha sede... Bocas de côco e canela misturadas.
Ele ajoelhado... Lambia a calcinha... Cheiro de pentelho...
Os pêlos subiam, bem curtinhos pela barriga...

Umbigo.
Seios... Ele molhado.
“vou molhar teus peitinhos...”
“Não tira minha calcinha... Eu não me raspei... ”
Se olharam... Ele era bonito.
O elástico arrancado machucou sua nuca...
“Pescoço, pêlinhos...
“Virgem...”
“Mentira... teve tesão menina...”
Era feia. Magra. Sem graça. E quatro olhos.
“Vira de costas...”
Tarou no desenho, caminho de pêlos... Microscópicas formigas negras...
Perigosas são as vermelhas.
Ela pensou na bunda. Duas manchas.
Mas seus pêlos eram tudo... Toda uma vida.
O que dependia, de que servia ser insegura?
Entregou-se e gemeu... Olhava por cima.
“Louquinha... Você desperta o monstro em mim...”

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Suores Noturnos

De muito longe eu venho. Chego e deposito meus frutos nessa porta.
Por favor,abra,estou cansada assustada e com frio.
Imploro alimento que irá curar toda falta em meu peito.
Não disponho de mais nada.
Sou triste, vazia e solitária.
Deixo para trás a alegria sem poder avançar,
Pois não abriste a tua porta.
Pausa. Tempo.
Já não sinto mais fome. Esgotei em mim todas as possibilidades.
Não voltar.
Esgotei todas as possibilidades.
Crer.
Mas essa árvore está seca e podre.
Inútil.
Ridícula em sua teimosia de querer se manter firme.
Frágil raiz do tempo que sonha.
Raiz que agora eu renego...
Já não sei mais florescer.
Não ser.
Deixar para trás a pequena menina.
Inútil.
Ridícula.
Abraço a escuridão, constante amiga.
De muito longe eu venho.
Mas meu vôo foi curto na fome e sede.
Não acreditei em meus sonhos e desdenhei de tudo que pudesse
Sim, causar encantamento.
Amor que tarde me veio...

Este é o verdadeiro alimento.
Ele chegou com sua calma e força.
Se apiedando do pobre animal em sua dourada fortaleza.
Inútil é negar a própria natureza.
Eu gostaria de morrer em teus braços.
Do meu canto mudo esqueci as belezas do mundo
Ingênuo passarinho de asas de vidro...
O perfume de lugares distantes te envenenou.
Viagem vazia.
Esqueça...
Abrace a alegria como manto protetor.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Condessinha oferece...


Condessinha em anáguas vermelhas... Impuras de ardor...
Exalava forte cheiro, de fêmea bandida...
Atrás de olhos pueris...
O Senhor Garboso anunciava sua presença
Em sonhos insatisfeitos de noites ternas e quentes...
Molhei minhas anáguas... Rendas finas e transparentes
Meu sangue escorreu por entre o pau do meu Senhor...
Ele me penetra com cuidado, me coloca de lado como inocente a ninar...
O sangue, porém...
Não era o da primeira vez e sim o do consolo de toda mulher
Que não quer procriar
Líquido benfazejo escorrendo liberto
Meu Gentil mete em mim como vulcão tenebroso...
Sou recipiente escaldante de sua pica saborosa e agora
Manchada de escarlate fulgor
Não importa minha querida. Quero mais dessa bocetinha vermelhinha...
Suculenta e macia...
O mistério do teu prazer é sagrado e meus lençóis de outros tons
São pintados
Naturalmente
Da cor vibrante do sexo
Que jamais será monocromático
E indolor.