quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Libertinas concretas


Era uma sóror... Sonhando pelo feio grilhão... Seus pêlos púbicos escondiam

Desejos de possessão...

Foi marcada nas costas, derretida cera ungida pela crisma fria

De freiras velhas e frígidas...

E os olhos do Franciscano... Irmão nas cantigas e preces

Queimavam naturalmente

Como no dia em que na grama verde deitou

O pau

Por entre vestes sombrias

Misturadas cores de fantasia

Na bocetinha da freirinha

Geme irmãzinha... Rezarei pela sua alma

Rezarei em todas as línguas

Delicadamente depositarei hóstias

De loucura

Paixão insubmissa

Tuas grades de nada adiantarão, pois

Consumado está...

Sou senhor dos segredos

Sou senhor dos teus olhos

Perfumei de mirra teus cabelos

Do meu jorro leitoso

Envolvendo como véu lacrimoso

A tua pureza resoluta.

É tarde, mas nada impede o dia de vir

Sonolenta tristeza sabes que vai para a chama da vergonha...

Estarei lá untando teu corpo

Teu respiradouro

Frágil e doce

Serei a morte no caminho reverso do Amor...

E sempre, sempre te puxarei para junto

Da minha boca

Dividida

Entre Deus e a dor...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Minha Hidra

Eu nada posso dar além do meu amor... Eu sou feita para o amor dos pés à cabeça... Pequena pluma perdida, de olhos pintados que escurecem e apagam sombras de todas as mágoas... Braços feridos, marcados de inúmeras intromissões, permitidas na carne macia... Veias turquesas inundadas do éter do esquecimento... Pequena pluma perdida entre sujeira e escárnio, mulher feita para o amor de mil passantes, fugidios, apressados. O disco voltava sempre ao início e o tempo do amor era o momento preciso de um lado obsessivamente gasto de tanto escutar. Os sulcos do velho long-play já se faziam profundos como se acusassem o tédio daquelas intermináveis horas. Daí o paraíso injetado. De onde ela não jazia. O paraíso dos aflitos e perdidos, dos que voam como sopro de anjo sem ter pouso e quando caem são recebidos por mãos sujas de desejo.

E agora que subia o efeito ela se tornava num crescendo lânguida, surpresa admirava seu rosto, seu colo, as pérolas escorrendo por entre o decote tocando seus pequenos seios. Estremecia ao contato de seus dedos subindo por variadas combinações de tecidos... Percebia uma mistura doce umedecendo o seu misterioso sexo coberto de macia nuvem negra de pêlos.

Tanto sonho para vulgares e embrutecidos homens. Para sobreviver como flor da meia-noite, brilhante apenas na sua superfície. De qualquer modo o que lhes interessava estava fixada somente na superfície, era um corpo quente,agradável,e sua voz não se alterava...aprendera a sorrir obediente,intoxicada de falsas promessas e elogios.Aprendera a mentir e nisso consistia sua graça e vulnerabilidade...quanto mais fingia mais revelava em olhos de vidro translúcido.Possuía uma certa loucura que condenava seus passos a se acertarem somente em precipícios.Aguardava o mergulho longo ao vazio como um presságio de infância.Derradeiros braços do esquecimento...E que faria então de todo esse ser que via do outro lado do espelho? O que faria de suas ilusões?

Nadava sem alcançar a outra margem, o brinquedo prometido o momento perfeito. O alvo certeiro do querer. Precisava de mais uma bebida. Forte como uma ejaculação que transborda além do seu sexo... Taça esfuziante, cheia e borbulhante de prazer. Seus olhos voltam a sorrir...

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Alada

Queimaram-me em fogueiras de desilusão.Cuspiram na minha cara,ofenderam minha alma,rasgaram minhas roupas...Condenaram a mulher a vagar solitária e perdida.Mas derramei alegria,escancarei o riso,ninguém esperava...Os mortos não reagem,diziam.Então para quê se continua? A vida é apenas uma e depois esquecimento? Um monge me salvou do castigo em chamas quando me olhou,voltou sua compaixão,quase pude perceber o seu amor...me pedia para esperar,um dia voltaria para me desamarrar...

Triste Eurídice

De quantos caminhos minha vida precisa

Amor

Para que eu possa te encontrar...



Quanto amargor de ouro fundido

Minha garganta irá provar

Amor

Para eu poder te encontrar



E mãos impuras se fartem

Em minha carne fria...


E promessas soltas dancem

E me elevem em sua sombria atração


Me afastando de Orfeu

No passo duvidoso de quando se acha que é tarde demais

Sempre existirá aquela última gota

Desistência de tudo...


Até em acreditar que horas não são vilãs

E que a moça pura se transforme

Em alma horripilante

Porque tem medo

Do segundo que lhe escapa

O vil futuro que fica marcado em seu corpo

Como mancha cancerosa

Eu caminho por esse vão escuro à espera de redenção...

Mas a terra se amolece para que eu mais nada sinta

E possa desaparecer

Súbita e obediente

Amor

Sem que eu te encontrar consiga...