Eu nada posso dar além do meu amor... Eu sou feita para o amor dos pés à cabeça... Pequena pluma perdida, de olhos pintados que escurecem e apagam sombras de todas as mágoas... Braços feridos, marcados de inúmeras intromissões, permitidas na carne macia... Veias turquesas inundadas do éter do esquecimento... Pequena pluma perdida entre sujeira e escárnio, mulher feita para o amor de mil passantes, fugidios, apressados. O disco voltava sempre ao início e o tempo do amor era o momento preciso de um lado obsessivamente gasto de tanto escutar. Os sulcos do velho long-play já se faziam profundos como se acusassem o tédio daquelas intermináveis horas. Daí o paraíso injetado. De onde ela não jazia. O paraíso dos aflitos e perdidos, dos que voam como sopro de anjo sem ter pouso e quando caem são recebidos por mãos sujas de desejo.
E agora que subia o efeito ela se tornava num crescendo lânguida, surpresa admirava seu rosto, seu colo, as pérolas escorrendo por entre o decote tocando seus pequenos seios. Estremecia ao contato de seus dedos subindo por variadas combinações de tecidos... Percebia uma mistura doce umedecendo o seu misterioso sexo coberto de macia nuvem negra de pêlos.
Tanto sonho para vulgares e embrutecidos homens. Para sobreviver como flor da meia-noite, brilhante apenas na sua superfície. De qualquer modo o que lhes interessava estava fixada somente na superfície, era um corpo quente,agradável,e sua voz não se alterava...aprendera a sorrir obediente,intoxicada de falsas promessas e elogios.Aprendera a mentir e nisso consistia sua graça e vulnerabilidade...quanto mais fingia mais revelava em olhos de vidro translúcido.Possuía uma certa loucura que condenava seus passos a se acertarem somente em precipícios.Aguardava o mergulho longo ao vazio como um presságio de infância.Derradeiros braços do esquecimento...E que faria então de todo esse ser que via do outro lado do espelho? O que faria de suas ilusões?
Nadava sem alcançar a outra margem, o brinquedo prometido o momento perfeito. O alvo certeiro do querer. Precisava de mais uma bebida. Forte como uma ejaculação que transborda além do seu sexo... Taça esfuziante, cheia e borbulhante de prazer. Seus olhos voltam a sorrir...
4 comentários:
Lu,
parabéns pelo blog.
Agora tua poesia podem percorrer o mundo e hidratar as pessoas sedentas por bons textos
Parabéns!!!
Beijos...
"Braços feridos, marcados de inúmeras intromissões, permitidas na carne macia"
Trecho especialmente bonito dessas linhas de curvas sexy.
Bom saber do blog.
beijos
Henrique
Peter,
Adorei ser uma Hidra que percorre o mundo...
Beijos
Rick,
Bom saber é você por aqui...
Beijos
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