domingo, 15 de fevereiro de 2009

Tarei...

Entrando no carro estofado de couro ela amarrou o cabelo, suava quente.
Estofado de couro.
“Quero ir para casa!”
Pedir carona saindo do colégio. Nova. Rejeitada pelos colegas.
“Bonitinha...”, reparou “nuca peludinha...”
Tinha tesão em pêlos. Com oito anos ela raspou metade da perna com a gilete do pai.
“Que é isso?”
“Caiu, pai, meus pêlos caíram...”
Não gostava de usar saia. Dentro do carro ele espichava. Relance.
Pequena calcinha branca. Coxas peludinhas.
“Me deixa em casa?”
“Quero comer. Tava indo ao trabalho. Te dei carona...”
“Tá quase lá... ali, vira ali naquela rua...”
“Gosta de frapê de côco?”
O pai saía da sorveteria, simples de esquina, ela toda feliz, vestido azul... Sorvete, só de chocolate!
“Pai! Meu sabor preferido é de chocolate...” O vestido ficou sujo.
Mas seu pai era bom. Pegou um guardanapo e limpou a manchinha de sorvete.
Dentro do bar, o frapê refrescou os dois. Mochila no balcão. Calcinha escondida.
Ele já namorava seus peitinhos. Ela se via através do vidro da lanchonete...
“Letreiro brega...”
“Volta?”
“Heim?”, e chupou o canudinho... Côco e canela...
Ela tinha penugem em cima dos lábios. Ele tarava com seus pêlinhos.
“Volta comigo?”

Sorri. Já nem se lembrava dos anos sem saia.
Verões intermináveis em calças pesadas. Duas calças vestidas. Esconder as pernas.
Se olhava no espelho.
Feia. Sem graça. Tinha manchinha na bunda.
Ninguém, nenhum garoto ia ter tesão na sua bunda.
Duas manchinhas.
Vestido de chocolate. Boquinha de côco e canela. Bunda manchadinha...
“Dentro, aí, pode pegar o lenço...”
“Porta-luvas? Mas depois me leva em casa?”
“Tô tarando garota...”
Ela limpando a blusa...
“Em quem?”
“Menina,não assobia,dá ruga! Menina, sem cotovelo na mesa! Menina sem boca cheia!”
Cotovelo é feio...
Ela olhava agora os cotovelos. Eles também eram manchadinhos...
Muitos pêlos nos braços!
“Quando foi que sentiu tesão?”
“Pela primeira vez?”
“Fica só de calcinha?”
“Não sei, acho que era bem pequena... meu coração doía.”
Ela tinha pêlos todos escurinhos, calcinha branca e se via os pentelhos pretos...
Saiam pela calcinha, pêlos espalhadinhos.
Ela suspirou.
Não pensava em nada. Sua mãe a esperava para almoçar. Mas não tinha sede... Bocas de côco e canela misturadas.
Ele ajoelhado... Lambia a calcinha... Cheiro de pentelho...
Os pêlos subiam, bem curtinhos pela barriga...

Umbigo.
Seios... Ele molhado.
“vou molhar teus peitinhos...”
“Não tira minha calcinha... Eu não me raspei... ”
Se olharam... Ele era bonito.
O elástico arrancado machucou sua nuca...
“Pescoço, pêlinhos...
“Virgem...”
“Mentira... teve tesão menina...”
Era feia. Magra. Sem graça. E quatro olhos.
“Vira de costas...”
Tarou no desenho, caminho de pêlos... Microscópicas formigas negras...
Perigosas são as vermelhas.
Ela pensou na bunda. Duas manchas.
Mas seus pêlos eram tudo... Toda uma vida.
O que dependia, de que servia ser insegura?
Entregou-se e gemeu... Olhava por cima.
“Louquinha... Você desperta o monstro em mim...”

Um comentário:

Henrique Crespo disse...

taras, quem não as tem? rs

adorei.