sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Menina no Portão


Se conhece pequena figura
Pintada de azul dependurada
À espera
Fria estrela de meninice esquecida
Dependurada
Envolta em manto pesado
Cujas mãos são apenas garras de velha águia
Retorna enfim à porta do ninho e o bico recurvado
Fere, castiga e maltrata os olhos
Puros de quem admirava
Distante estrela
A quem suspirava
Velha águia desfeita de seus adornos de ilusão
Recolhe esses encantos incompreensíveis
Dos que são inatingíveis
Bardos, profetas e poetas
Desajustados do amor
Esse manto de alegóricas tristezas
É o único refúgio
Estendido aos pés do meu passado
Águia dependurada
Sem asas
Sem bico
Fria
Distante
Sem nada

"Belle de Nuit" de Brassai.

3 comentários:

Henrique Crespo disse...

Andas agora por versos tristes? Menina dissoluta e triste?

Sabe que toda vez que preencho ficha de hotel eu coloco poeta no espaço da profissão? rsrsrs Versos não escrevo mas, naquele momento fingo ser poeta. E o poeta não é mesmo um fingidor? rs

tenho um pequeno blog sabia? www.semopiniao.blogger.com.br

L.N. disse...

sim claro que pode, abraço.

Gabriel Springer Pitanga disse...

Por trás da tristeza está a frieza. Momento raro, para uma Luciana. Por trás da tristeza há a descrição. Nada mais é do que uma descrição. E a frieza, uma mostra de forças maiores, maiores do que no passado, pois já se permite distanciar-se do sentimento ruim a apenas olhá-lo de fora. A Águia dependurada só está fria, sem bico, asas, sem nada, quando voltada em atenções ao tal manto estendido aos pés de seu passado. E parece até que se despede das tritezas, pois está triste por dar adeus a algo a que tinha se acostumado. Pois agora ela tem mais o que fazer. Encontra certa crescente alegria em recolher esses encantos incompreensíveis
dos que são inatingíveis:
Bardos, profetas e poetas
Desajustados do amor.