sexta-feira, 24 de abril de 2009

Antes Fosse

Quando eu era pequena

Cortaram meus longos cachos

Enroscados, pretinhos

E pararam de sacudir ao vento

Bom vento...

"Deus me livre de criança faceira!"

"Deus me livre de piolho graúdo!"


Vivi a condição de menino. Andava descalça, seminua.

As mãos sujas de terra

A brincar de pirata e tesouros escondidos no quintal de horas em horas...

Mas era traída quando a parar

Por uma flor ordinária

Fazia de suas pétalas pequenas, miudinhas

Enfeites para minha vida sem cor...



***

Dorzinha


Mariazinha tinha deixado bilhetinho de amor dentro de caderno do menino.
Quando a sineta tocou, passo aflito, ela cutucou, "me dá um beijo, Joãozinho?". E já ia fechando os olhos, ouvindo o psi-psi dos passarinhos, quando ele a empurrou... "Você é feia, Maria!"
Ela se levantou, limpou seu vestidinho de cor azul.
Escondendo a dor do primeiro coração partido.

***



Prece



O balão que eu queria

Só para guardar

Sumiu na noite voando alto, longe.

Perto do teto do céu...

Que inveja das estrelas! Sempre puras, impávidas

Admiradas e proseadas

Fogo que não tem calor...

Quantas saudades da menina

Bichinho crédulo de mãozinhas entrelaçadas

Rezando para a primeira estrela

Trazer felicidade...

Hoje finalmente alcancei o lugar de onde deixei

A menina perdida

Mas agora sou triste e fria

Cega por olhar as estrelas vazias!




***

4 comentários:

Café no sangue cura. disse...

Cega por ver, não ver, sentir, cheirar, querer! sempre querer. Antes fossemos algo que realmente podesse nos vingar. Somos o que tentamos da forma inversa. E o que voce escreve, me passa lucidez! uma lucidez que não gosta de realidade.

Bom isso!

Café no sangue cura. disse...

Sumir temporariamente ou definitivamente, hidra? :)

:*

Vicente Portella disse...

São as visões permitidas pela cegueira...

Beijão, Hidra

Café no sangue cura. disse...

Satisfeito é o sentimento agora.
Quero coisas nova, hidra.

:)
Bom tê-la de volta.