Quando eu era pequena
Cortaram meus longos cachos
Enroscados, pretinhos
E pararam de sacudir ao vento
Bom vento...
"Deus me livre de criança faceira!"
"Deus me livre de piolho graúdo!"
Vivi a condição de menino. Andava descalça, seminua.
As mãos sujas de terra
A brincar de pirata e tesouros escondidos no quintal de horas em horas...
Mas era traída quando a parar
Por uma flor ordinária
Fazia de suas pétalas pequenas, miudinhas
Enfeites para minha vida sem cor...
***
Dorzinha
Mariazinha tinha deixado bilhetinho de amor dentro de caderno do menino.
Quando a sineta tocou, passo aflito, ela cutucou, "me dá um beijo, Joãozinho?". E já ia fechando os olhos, ouvindo o psi-psi dos passarinhos, quando ele a empurrou... "Você é feia, Maria!"
Ela se levantou, limpou seu vestidinho de cor azul.
Escondendo a dor do primeiro coração partido.
***
Prece
O balão que eu queria
Só para guardar
Sumiu na noite voando alto, longe.
Perto do teto do céu...
Que inveja das estrelas! Sempre puras, impávidas
Admiradas e proseadas
Fogo que não tem calor...
Quantas saudades da menina
Bichinho crédulo de mãozinhas entrelaçadas
Rezando para a primeira estrela
Trazer felicidade...
Hoje finalmente alcancei o lugar de onde deixei
A menina perdida
Mas agora sou triste e fria
Cega por olhar as estrelas vazias!
***
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4 comentários:
Cega por ver, não ver, sentir, cheirar, querer! sempre querer. Antes fossemos algo que realmente podesse nos vingar. Somos o que tentamos da forma inversa. E o que voce escreve, me passa lucidez! uma lucidez que não gosta de realidade.
Bom isso!
Sumir temporariamente ou definitivamente, hidra? :)
:*
São as visões permitidas pela cegueira...
Beijão, Hidra
Satisfeito é o sentimento agora.
Quero coisas nova, hidra.
:)
Bom tê-la de volta.
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